Gilmar C. Milezzi
Sobre Parágrafos
Os parágrafos devem apresentar uma ideia (ou ação) completa ou, pelo menos, conduzir o leitor para os parágrafos seguintes, com um gancho ou um ponto de virada.
“De repente, ele percebeu que o olhar dela havia se desviado para o lançador. Havia chegado o momento de uma desgraça praticamente anunciada. O anticlímax o fez lançar uma prece silenciosa a todos os deuses que conhecia, mesmo tendo a convicção de que deuses não se importavam com o miserável destino de um simples mortal no jogo de taco.” (Zaphir, 2014).
Observe que a ação não se completou, mas deixou em suspense o que iria acontecer no parágrafo seguinte, seguindo uma lógica em que a tensão é crescente, um recurso narrativo que funciona bem, tanto na linha principal da obra, quanto em partes dela.
Diálogos: Travessão ou aspas?
Ambos os recursos são admitidos, mas o uso do travessão é mais comum. O uso de aspas fica bom no registro do pensamento do personagem, ou o relato de algum outro, que signifique uma saída momentânea da linha do tempo do plot principal.
“O centauro ouviu o velhote sussurrar e aproximou-se um pouco mais para ouvir suas palavras. O esforço foi em vão, pois não conseguiu compreender a estranha língua utilizada”.
“Ele está falando em n’sualli, a língua dos deuses mortos. Acho que você encontrou um feiticeiro tchala respondeu Bullit, antecipando-se à sua pergunta”.
“O que ele está fazendo aqui?”
“A pergunta era meramente retórica. O elfo sabia o que o bruxo queria e tratou de preparar-se para o embate que se anunciava”.
*Diálogo telepático entre o elfo Bullit e o centauro Beron, em Zaphir.
O uso de aspas permite muitas possibilidades para enriquecer o texto, no exemplo a seguir, do conto Poemas & Blues, um homem adulto sofre com as provocações de sua própria consciência.
Ela baixou os braços lentamente, deixando evidente a intenção de provocá-lo.
“Que delícia! Você não vai fazer nada, seu bundão?” Provocou o diabinho.
— Acho que você está com sono. — Ele conseguiu dizer.
“Você é simplesmente patético!” Retrucou o diabinho, com desdém.
Parte importante na condução da trama, a conversa entre personagens deixa o texto mais leve e, em simultâneo, pode fornecer o contexto e informações importantes para situar o leitor na compreensão da narrativa.
“— Michel é mariquinha! Michel é mariquinha! — Gritavam os garotos em coro, enquanto remexiam os quadris, na tentativa de imitar o que lhes parecia o jeito de andar das meninas.” (Zaphir, 2014).
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