Como o próprio título sugere, esse livro de contos foi concebido realmente como uma terapia ocupacional, a qual se impôs a autora, em algum momento de sua vida. O conjunto de contos tem, pois, uma conotação de “reiniciar” em seus processos emocionais, se me permitem a analogia com um termo mais apropriado aos modernos equipamentos de processamento e transmissão da informação, para remover algum erro ou limpar a memória.
Não é possível falar dessa obra, sem tecer outras considerações sobre o inusitado processo criativo. Ana Esther se propôs a escrever as histórias a partir das informações contidas em um questionário enviado a parentes e amigos, os quais pareciam ignorar a natureza do projeto e sua finalidade.
As informações solicitadas no questionário serviram de base para Ana Esther compor suas histórias, numa forma de parceria pouco usual em processos criativos numa obra literária. A partir de temas sugeridos pelos colaboradores, que incluíam informações de época e lugar e algumas indicações quanto às características das personagens, a autora se propôs a escrever uma história a cada semana, numa maratona que se relacionava diretamente ao motivo pessoal do projeto.
Ao fim dessa jornada, cinquenta e três contos foram escritos. As histórias abordaram os mais diversos temas, sugeridos por pessoas diferentes e não têm uma ligação entre si, e nem seria de se esperar isso. Estabelecer um vínculo entre os contos seria inútil, a menos que se referisse ao fim para o qual o projeto foi concebido, como sugere o título da coletânea. Apesar disso, ou por conta disso, Ana Esther nos apresenta narrativas leves, algumas, como no conto “Nova Vida”, transparece a ideia de um recomeço e parece emular o próprio momento vivido pela autora, na época em que foi escrito.
Em outro conto, “Amor que vem dos Céus”, a autora nos apresenta uma história que une elementos do catolicismo com física quântica, relações de gênero e vida extraterrestre. Em meio à essa curiosa mistura, chega-se ao fim da história com um gosto de quero mais. Esse conto tem potencial para se transformar numa narrativa mais longa. Talvez uma novela, ou mesmo um romance.
Em cada conto, se pode perceber um pedaço de Ana Esther e sua peculiar visão de mundo e da vida. Isso, por si só, já vale a leitura do livro. Entretanto, não devemos ter pressa. Como um bom vinho, o livro de contos Terapia Ocupacional, merece ser degustado aos poucos, para não perdermos o que de mais valioso as histórias nos trazem: aquilo que só se percebe nas entrelinhas.
Ana Esther Balbão Pithan
Minha alegria é imensa, Gilmar! Agradeço-te muito por teres dedicado o teu tempo com a leitura e considerações sobre o meu primeiro livro!